A Terapia Comportamental Dialética (DBT), originalmente desenvolvida para trabalhar com pacientes com o transtorno de personalidade borderline, tem apresentado resultados efetivos no tratamento de pacientes com transtornos alimentares, como comer emocional e compulsão alimentar.
Algumas abordagens que tratam a compulsão alimentar podem incluir atenção às emoções, mas a DBT é a única abordagem que foca diretamente na associação entre a desregulação emocional e a compulsão emocional. Algo central dessa abordagem é entender que os indivíduos utilizam a alimentação para se acalmar. Essa forma de lidar com as emoções "funciona" temporariamente ou funcionou no passado, apesar de suas consequências negativas a longo prazo, que causam diversos problemas na vida dos pacientes e os mantém presos nesse ciclo de compulsão alimentar.
As pessoas com compulsão alimentar podem ter uma vulnerabilidade maior não apenas à emoção, mas também à alimentação e às suas características de recompensa. As pesquisas ainda não podem afirmar com clareza se essa tal vulnerabilidade existe antes do desenvolvimento da compulsão alimentar ou se é resultado dela, ou ainda se as duas vulnerabilidades interagiram e se desenvolveram ao longo do tempo, mas sabemos que provavelmente houve o envolvimento de ambos os fatores.
A fome por prazer e o comer emocional envolvem um aumento no ímpeto ou na preocupação com alimentos altamente desejáveis, mesmo sem a presença de fome física. Esses comportamentos têm sido demonstrados com maior frequência entre pessoas com transtorno de compulsão alimentar, as quais são excepcionalmente suscetíveis a pistas de comida (ou seja, apresentação, cheiro e sabor da comida) no seu ambiente. É interessante que as características de recompensa da comida são "visíveis" no cérebro antes mesmo de o indivíduo comer o alimento. Em outras palavras, a simples antecipação da comida, como imaginar o sabor e quanto será bom e prazeroso comê-la, leva o cérebro a uma resposta e a atitude de ingestão de alimentos.
Também é importante notar que há evidência de que o valor de recompensa da comida é mais elevado ainda em vigência de estados emocionais desconfortáveis, vivenciados por pessoas com comer compulsivo. Além disso, a repetição das compulsões alimentares modifica o circuito de recompensa do cérebro de uma forma que leva a um aumento da chance de novos episódios de comer compulsivo.
O adiamento da recompensa descreve a dificuldade de resistir a recompensas de curto prazo (como a dificuldade de resistir à vontade de comer de forma compulsiva) no lugar de recompensar de longo prazo. Então, o valor da recompensa futura é desconsiderado porque o indivíduo quer uma recompensa imediata. Essa dificuldade é encontrada com maior frequência entre as pessoas com comer compulsivo do que nos obesos sem compulsão alimentar ou em indivíduos de peso normal. É bem possível que esses pacientes tenham uma vulnerabilidade biológica tanto às emoções quanto à alimentação.
De qualquer maneira, isso não é tudo o que geralmente está envolvido no desenvolvimento de padrões de compulsão alimentar para lidar com emoções desconfortáveis, já que os transtornos mentais são multifatoriais. A teoria biossocial da DBT se refere a uma sensibilidade biológica que interage com o ambiente em que fomos criados e aos eventos específicos de vida que enfrentamos, ou seja, a parte "social" da palavra biossocial refere-se a "ambiente invalidante".
Como funciona a DBT na prática? A DBT propõe ensinar habilidades e estratégias específicas para enfrentar emoções difíceis, sem ter a necessidade de recorrer à comida. Além disso, a DBT incorpora um pensamento dialético, um jeito flexível de pensar, que permite ao paciente pensar pontos de vista contrários, reconhecer a necessidade de parar de ter a compulsão alimentar e aceitar-se do jeito que se encontra naquele momento. É ensinado um método, passo a passo, para revisar o que mantém o paciente em um padrão disfuncional. Essencialmente, o paciente é ensinado a se tornar o seu próprio terapeuta e, ao final do processo, ele terá todos os recursos necessários para praticar e manter os comportamentos habilidosos de que precisa para ter uma relação saudável com a comida.